domingo, 24 de agosto de 2008

Confissão ao Céu


O céu é lindo! Cativante a simplicidade com que se apresenta a mim, e a perfeição como é retratado com giz de cera nos desenhos infantis.

Por mais que o céu me impressione quando o percebo mais de perto, nos aviões, pára-quedas e coberturas de edifícios, nada se compara a vê-lo daqui, de baixo, da simples terra à qual voltaremos.

Quando é visto do alto, é bonito e diferente, e por isso desperta curiosidade e desejo de contemplá-lo. Mas daqui de baixo não. Daqui o céu é sempre, e sempre será, apenas, o céu. É ele quem me acompanhou no desenrolar dos fatos, e para ele outrora olhei desesperado procurando uma saída, uma solução, ou simplesmente o rosto daqueles que amo.

Daqui de baixo o céu é comum. Daqui o céu é simples. Daqui o céu é perfeito. Daqui o céu é céu!

O céu está sempre no céu, mas raramente é a ele quem busco. Olho para o céu em busca do sol, para me esquentar. Olho para o céu buscando a lua, por estar ao lado de uma bela mulher. Olho para o céu buscando as estrelas para evadir-me de mim e para afastar a melancolia do ceticismo gerado no dia-a-dia. Só não olho para o céu buscando o céu. Ainda assim, ele sempre está lá, no céu.

Em breves momentos durante meu breve e apressado percurso nas ruas da cidade, tenho percebido o céu. Nestes momentos, percebo-o por si mesmo. O céu pelo céu, o azul pelo azul, o algodão pelo algodão.

Ah, se eu pudesse me lembrar mais do céu. Parar o dia, descansar o ponteiro vibrante de meu relógio novo, deixar a pasta no chão, afrouxando a gravata e olhar para cima a fim de simplesmente encontrá-lo novamente, como ‘antigamente’. Esquecer-me do sol, da lua e das estrelas. Esquecer-me do calor, da mulher, do ceticismo. Seríamos somente eu e o céu, este se apoiando por inteiro em minha fronte virada ao infinito, e eu resistindo brevemente em desfocada concentração.

Quando percebi o quanto gosto do céu, percebi o quanto gosto de Deus. Da desfeita feita ao céu, diariamente, é Deus co-participante. Afinal, não olho para Deus buscando a Deus.

Olho buscando ajuda, levando pedidos, agradecimentos, ou simplesmente olho não buscando nada. Olho quando preciso ou quando vejo outros olhando, mas poucas vezes olho por simplesmente vê-lo, achá-lo, vivê-lo. Ainda assim, como o céu, Ele está sempre lá. Faz todos os poucos momentos de sincera contemplação imensamente mais proveitosos que momentos de sol, de lua ou de estrelas. Momento apenas de céu. Momento apenas de Deus.

Jonas M. Ferreira

Nenhum comentário: