domingo, 24 de agosto de 2008

Amemos Sempre


“Sexo só depois do casamento”, que tipo de expressão é essa? É tão estranha quanto conhecida, no mínimo; pois quando discutimos sexo ou casamento, de imediato, surge diante de nós esse pré-conceito. Mas insisto: que tipo de sentença é essa? A princípio nos parece mais com uma lei ritualística do que com um princípio cristão; nada nos diz, pouco ou nada modifica nossa existência, nosso modo de viver.

Poderíamos pensar que a inutilidade de tal jargão se dá por dois motivos básicos: primeiro pela transformação de uma lei ética em legalidade tradicional sem sentido e segundo por nossa superficialidade na percepção e compreensão desse conceito. Uma expressão como essa é tantas vezes usada de modo “religioso-repressor”, ou seja, apenas como regra impessoal a nós imposta, que em determinado momento esvazia-se de seu sentido profundo e Espiritual, não mais modificando nossa mentalidade. Entretanto, somos nós mesmos que, por vezes, não aprofundamos até a causa mor ou sentido primário das relações humanas; por isso não aprendemos e tampouco apreendemos a Verdade.

Tal expressão, mesmo assim, muito nos pode ensinar a respeito de um modo de sexualidade divinamente recomendável; tudo dependerá, todavia, de nosso compromisso profundo com o Cristo, na busca pela verdade.

É certo que o sentido primário da sentença em questão consiste no fato de que, no prisma divino, sexo é sinônimo de casamento, pois o que Deus vê é a união entre duas criaturas, nada mais. Diante disso, percebemos uma elevação da relação sexual a um status, reconhecido pelo próprio Deus, de componente central na formação familiar, que é o supremo objetivo do Senhor.

Sexo, portanto, não deveria ser apenas desejo por desejo, tendendo ao descontrole dos impulsos. Nossas relações sentimentais, todavia, tendem a assumir exatamente essa postura. Normalmente, vivemos apenas o ímpeto de realização de nossos desejos, a qualquer custo e de qualquer modo. Poderíamos dizer que o homem em sua natureza carnal possui apenas desejo, destituído de amor e amizade. Tal impulso sexual tende ao infinito, pois não quer ser controlado, apenas realizar o seu fim último: atender o desejado. Não se quer um indivíduo com o qual se viverá em amor, mas um objeto para a satisfação. Trata-se, pois, de um desejo indefinido, sem alvo verdadeiro.

Quando aprofundamos nas características reais de nossas relações, percebemos que nosso amor visa ao prazer somente e não ao ser, ao amado(a). Compreender sexo como casamento e ambos como união vital entre dois seres que se amam pode, entretanto, transformar toda a nossa conduta de vida.

“Sexo como casamento”, e não “sexo só depois do casamento”, nos ensina que amar verdadeiramente não se dá por meio de “regras-impessoais”, mas por uma Verdade internalizada: a Lei de Amor do Senhor gravada em nosso coração. Tal lei nos ensina que essa união sexual e social a que chamamos casamento deve ser baseada em um amor que reinterpreta nossos instintos pecaminosos, ensinando-nos a desejar um outro ser e não um objeto. Ensina-nos que na busca de um parceiro(a), devemos visar a algo que se realizará em harmonia com outra pessoa, como se namoro e casamento fossem ambientes nos quais construímos algo mais elevado que nós mesmos.

Não mais prazer por prazer, nem desejo por desejo, mas um amor construído em amizade e que se compromete com o outro ser numa busca conjunta e equilibrada. Por isso o casamento civil é a legitimação dessa união, e se faz necessário, mas não é a união em si, porquanto para Deus (quem de fato importa) o que interessa é o “tornar-se uma só carne”, e isso é tudo.

O cristianismo não é exterioridade legalista, mas amor que transforma nosso ser, gravando em nosso coração Verdades. Cristo quer se repetir em nós, integralmente; tudo em nós deve, portanto, refleti-lo, continuamente.

O Caráter do Cristo nos ensina, pois, que o verdadeiro amor não deve ser um ímpeto da necessidade em busca daquilo que satisfaz, mas sim um movimento recíproco de iguais, a fim de em amizade produzir vida.

Fillipe Mendes

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