sábado, 27 de fevereiro de 2010

Salomão 2 - Vivemos um eterno retorno


Ao ingressar nessa pequena embarcação, além dos meus companheiros trago comigo todas as minhas desventuras e o peso da sociedade que me enrijece o tronco. Sou um homem que tenho muito dinheiro e tudo o que ele pode comprar eu tenho. Posso comprar inclusive o respeito e a admiração das pessoas. Sou daqueles que não se contenta com respostas prontas, aprofundo em questões que muitos sábios não conseguem responder. Além disso, me aplico diligentemente ao trabalho e na intervenção da natureza pelas minhas mãos, por acreditar que dessa forma dou mais significado a minha vida.

Diferentemente dos meus semelhantes, posso me considerar um indivíduo, porque minhas posições sociais e aplicações me condicionam a isso. Sou uma colcha de retalhos, formado por pedaços e tiras, dos tempos e dos valores, e tenho esses pedaços suturados pela fibra humana das minhas relações com as pessoas.

Acredito que a história da humanidade é como um livro lido várias vezes, as coisas vão e vem e se repetem com o tempo. Apenas as disposições do coração do leitor sofrem alguma alteração. Mas geração vai e geração vem, levanta-se o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar, onde nasce de novo. O vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; volve-se, e revolve-se, na sua carreira, e retorna aos seus destinos. Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr.

Todos nos cansamos com nossas atividades de tal maneira que ninguém as pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem se enchem os ouvidos de ouvir. Sempre ansiamos pelas novidades, e queremos sempre saber os fatos das revistas da próxima semana. Entramos sistematicamente em nossas caixas de email esperando uma nova notícia, um novo sinal de vida, uma nova alegria.

E isso não é novo, a invenção de Gutenberg não ganhou notoriedade em vão. O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós. Já não há lembrança das coisas que precederam; e das coisas posteriores também não haverá memória entre os que hão de vir depois delas.

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